19.10
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Direito Ambiental
UE tenta atrair Brasil para meta contra metano
Por Assis Moreira — De Genebra
A União Europeia (UE) diz continuar esperando a adesão do Brasil a uma iniciativa global para reduzir emissões de metano em pelo menos 30% até 2030 em relação aos níveis de 2020, o que poderia acelerar a transição verde na agricultura. Esta iniciativa deverá ser lançada na Conferência do Clima, em duas semanas em Glasgow.
O Brasil é o quinto maior emissor mundial desse potente gás de efeito estufa, com 5,09% do total, só atrás de China (15,1%), Rússia (10,4%), Índia (8,15%) e EUA (7,62%), segundo dados do Banco Mundial com base em 2018.
Sem a agricultura, as emissões brasileiras de metano representam 1% do total mundial. É incluindo esse setor que o montante pula para 5% do total global. A maior contribuição nas emissões de metano especificamente relacionadas à pecuária vem da América Latina, metade das quais do Brasil, país com o maior rebanho comercial bovino do mundo.
“O Brasil é uma economia importante e, para fazer progresso global, todos os países, particularmente os grandes emissores e as grandes economias, precisarão demonstrar liderança e tomar medidas”, disse um funcionário europeu da área ambiental da Comissão Europeia, o braço executivo da UE, ao Valor.
Segundo esse funcionário, “reuniões de alto nível” com representantes brasileiros ocorreram no início de setembro para discutir a iniciativa. O lado brasileiro indicou na ocasião que seguia fazendo consultas internas com todos os ministérios envolvidos para considerar a adesão ao compromisso global.
“A UE espera que o Brasil venha a aderir ao compromisso na CoP 26 e está pronta para fornecer mais explicações sobre aspectos técnicos e outros’’, afirmou o representante europeu.
Para alguns observadores, uma ausência do Brasil deve alimentar a percepção negativa sobre o governo de Jair Bolsonaro na área ambiental. A resistência do governo brasileiro a se engajar concretamente também nesse combate “naturalmente esgota a paciência de interlocutores em algum momento”, diz uma fonte.
A iniciativa liderada por UE e EUA sobre o metano já tem mais de 30 participantes, mas não conta ainda com quatro dos cinco maiores emissores: China, Índia, Rússia e Brasil, membros do Brics. A UE nota, em todo o caso, que já conta com 9 dos 20 maiores emissores, representando cerca de 30% dos emissores globais de metano e 60% da economia mundial. Além disso, mais de 20 filantropos anunciaram compromissos totalizando mais de US$ 200 milhões para apoiar a implementação do Compromisso Global de Metano.
O metano é o segundo gás de efeito estufa mais importante responsável pelo aquecimento global e pela poluição do ar, depois do dióxido de carbono, resultante de atividades principalmente de energia, agricultura e resíduos.
O metano só permanece na atmosfera por cerca de nove anos, mas tem um impacto de aquecimento 84 vezes maior que o do CO2 em um período de 20 anos. É responsável por cerca de 30% do aumento global das temperaturas até o momento. A grande parte dessas emissões provem de três setores: agricultura (40% das emissões, com a pecuária e a orizicultura), combustíveis fósseis (35%, devido a vazamentos na extração, exploração e distribuição de gás e petróleo, mas também em minas de carvão) e resíduos (20%, particularmente em lixões abertos onde a matéria orgânica se decompõe).
Relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente aponta o maior potencial de mitigação por região: na Europa e na Índia está no setor de resíduos; na China, na produção de carvão seguido da pecuária; na África, na pecuária; na região da Ásia-Pacífico, excluindo China e Índia, é carvão e desperdício; no Oriente Médio, na América do Norte e na Rússia/União Soviética é de petróleo e gás; e na América Latina é na pecuária.
Segundo essa agência da ONU, as emissões de metano poderiam ser reduzidas em 45% até 2030 utilizando tecnologias existentes e a um “custo razoável”. Isso permitiria diminuir rapidamente o ritmo de aquecimento no curto prazo. Para a Agência Internacional de Energia (AIE), a redução de emissões de metano podem ser mais impactantes para limitar a mudança climática a curto prazo, com melhorias da saúde pública e da produtividade agrícola.
Mudanças na alimentação do gado já ajudariam a reduzir a fermentação entérica (digestão de materiais orgânicos por ruminantes) e a maior fonte dessa emissão, que é liberada pela flatulência.
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2021.
A União Europeia (UE) diz continuar esperando a adesão do Brasil a uma iniciativa global para reduzir emissões de metano em pelo menos 30% até 2030 em relação aos níveis de 2020, o que poderia acelerar a transição verde na agricultura. Esta iniciativa deverá ser lançada na Conferência do Clima, em duas semanas em Glasgow.
O Brasil é o quinto maior emissor mundial desse potente gás de efeito estufa, com 5,09% do total, só atrás de China (15,1%), Rússia (10,4%), Índia (8,15%) e EUA (7,62%), segundo dados do Banco Mundial com base em 2018.
Sem a agricultura, as emissões brasileiras de metano representam 1% do total mundial. É incluindo esse setor que o montante pula para 5% do total global. A maior contribuição nas emissões de metano especificamente relacionadas à pecuária vem da América Latina, metade das quais do Brasil, país com o maior rebanho comercial bovino do mundo.
“O Brasil é uma economia importante e, para fazer progresso global, todos os países, particularmente os grandes emissores e as grandes economias, precisarão demonstrar liderança e tomar medidas”, disse um funcionário europeu da área ambiental da Comissão Europeia, o braço executivo da UE, ao Valor.
Segundo esse funcionário, “reuniões de alto nível” com representantes brasileiros ocorreram no início de setembro para discutir a iniciativa. O lado brasileiro indicou na ocasião que seguia fazendo consultas internas com todos os ministérios envolvidos para considerar a adesão ao compromisso global.
“A UE espera que o Brasil venha a aderir ao compromisso na CoP 26 e está pronta para fornecer mais explicações sobre aspectos técnicos e outros’’, afirmou o representante europeu.
Para alguns observadores, uma ausência do Brasil deve alimentar a percepção negativa sobre o governo de Jair Bolsonaro na área ambiental. A resistência do governo brasileiro a se engajar concretamente também nesse combate “naturalmente esgota a paciência de interlocutores em algum momento”, diz uma fonte.
A iniciativa liderada por UE e EUA sobre o metano já tem mais de 30 participantes, mas não conta ainda com quatro dos cinco maiores emissores: China, Índia, Rússia e Brasil, membros do Brics. A UE nota, em todo o caso, que já conta com 9 dos 20 maiores emissores, representando cerca de 30% dos emissores globais de metano e 60% da economia mundial. Além disso, mais de 20 filantropos anunciaram compromissos totalizando mais de US$ 200 milhões para apoiar a implementação do Compromisso Global de Metano.
O metano é o segundo gás de efeito estufa mais importante responsável pelo aquecimento global e pela poluição do ar, depois do dióxido de carbono, resultante de atividades principalmente de energia, agricultura e resíduos.
O metano só permanece na atmosfera por cerca de nove anos, mas tem um impacto de aquecimento 84 vezes maior que o do CO2 em um período de 20 anos. É responsável por cerca de 30% do aumento global das temperaturas até o momento. A grande parte dessas emissões provem de três setores: agricultura (40% das emissões, com a pecuária e a orizicultura), combustíveis fósseis (35%, devido a vazamentos na extração, exploração e distribuição de gás e petróleo, mas também em minas de carvão) e resíduos (20%, particularmente em lixões abertos onde a matéria orgânica se decompõe).
Relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente aponta o maior potencial de mitigação por região: na Europa e na Índia está no setor de resíduos; na China, na produção de carvão seguido da pecuária; na África, na pecuária; na região da Ásia-Pacífico, excluindo China e Índia, é carvão e desperdício; no Oriente Médio, na América do Norte e na Rússia/União Soviética é de petróleo e gás; e na América Latina é na pecuária.
Segundo essa agência da ONU, as emissões de metano poderiam ser reduzidas em 45% até 2030 utilizando tecnologias existentes e a um “custo razoável”. Isso permitiria diminuir rapidamente o ritmo de aquecimento no curto prazo. Para a Agência Internacional de Energia (AIE), a redução de emissões de metano podem ser mais impactantes para limitar a mudança climática a curto prazo, com melhorias da saúde pública e da produtividade agrícola.
Mudanças na alimentação do gado já ajudariam a reduzir a fermentação entérica (digestão de materiais orgânicos por ruminantes) e a maior fonte dessa emissão, que é liberada pela flatulência.
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2021.