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Recompras de ações aumentam em 2021

Por Flávya Pereira e Ricardo Bomfim

Bolsa em queda, ações com preços atrativos, empresas capitalizadas e menos endividadas. A combinação desses fatores levou a um forte crescimento na abertura dos programas de recompra de ações em 2021, especialmente no segundo semestre, quando a desvalorização dos papéis se acentuou.

Foram 108 programas abertos no ano passado, segundo a base de dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O número representa alta de 44% em relação aos 75 anunciados em 2020. Dezembro, com 18, foi o mês com mais recompras anunciadas. E janeiro parece manter o ritmo, com nove anúncios até a noite de ontem.

“A bolsa brasileira teve um sell-off [onda vendedora] muito importante, saindo de 130 mil pontos para cerca de 100 mil pontos em poucos meses”, afirma o chefe da área de análise e pesquisa do BTG Pactual para América Latina, Carlos Eduardo Sequeira.

O Ibovespa fechou 2021 com desvalorização de 11,93%.

Embora esteja longe de haver consenso no mercado sobre quão baratas estão as ações brasileiras, Sequeira considera que a bolsa está em níveis atraentes, negociada abaixo da média histórica. “As empresas desenham seus orçamentos para o ano seguinte por volta de dezembro. Devem ter se sentido confortáveis para fazer os seus anúncios, além de aproveitar que as ações estão baratas”, diz.

A recompra é uma forma das empresas de capital aberto darem mais recursos ao acionista. Os papéis recomprados reduzem a quantidade em circulação e, dessa forma, costumam aumentar o valor por ação pago na forma de dividendo. A ferramenta também é usada pelas companhias para sinalizar ao mercado confiança na valorização do próprio negócio.

Foi esse o caso da Sequoia, de logística e transportes. No anúncio do programa de recompra, neste mês, a empresa deixou claro que considera haver uma subavaliação de seus papéis. “Na visão da administração da companhia, o valor atual de suas ações não reflete o real valor dos seus ativos combinado com a perspectiva de rentabilidade e geração de resultados futuros”, diz no documento.

O Bradesco, que não era um grande adepto das recompras, começou a usá-las de forma mais ativa no ano passado, em meio à pressão sobre as ações do setor causada pela pandemia e pelo aumento da concorrência. Ao anunciar a medida, em abril, o banco disse que passaria a adotar a recompra como um instrumento de gestão de capital e como um complemento da remuneração dos acionistas.

“Grandes empresas, como Vale e bancos, deixam regularmente seus programas ativos, para quando for necessário. Já outras companhias tiveram uma queda forte nos preços e recompraram as ações por um valor mais barato”, diz o chefe de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno.

Construção civil foi um dos setores que mais anunciaram recompras em 2021, em linha com o desempenho das ações do segmento, que caíram 31%, observa o sócio da Ajax Capital, Rafael Passos. Porém, outras atividades ligadas à economia doméstica também tiveram mau desempenho. “As empresas locais sofreram muito. O mesmo vale para consumo. Várias, incluindo varejo, anunciaram recompra. Consumo teve desvalorização de 26% na bolsa”, diz.

Antonio Marcos Samad Júnior, CEO da mesa proprietária Axia Investing, diz que o cenário de inflação e juros altos somado às eleições fez com que algumas empresas fossem castigadas pela fuga do investidor. “Muitas estão sendo negociadas abaixo do valor patrimonial, o que não faz sentido se estiverem com boa saúde financeira.”

Também contribuiu para o movimento de recompra o fato de as companhias estarem capitalizadas. Em 2021, muitas empresas foram ao mercado e estão com balanços confortáveis, observa Sequeira, do BTG. Por isso, ele afirma que “não surpreende” a onda de anúncios se estender por 2022.

Levantamento feito pelo BTG com 200 companhias listadas na B3 indica que a dívida líquida dessas empresas era de 3 vezes em 2015, quando o país entrou em recessão. No ano passado, o banco calcula que o indicador tenha recuado para perto de 1,2 vez.

Soma-se a essas condições uma antecipação das empresas ao cenário eleitoral - que deve adicionar mais volatilidade à bolsa. “Após a eleição, tenho razoável confiança de que o Ibovespa será negociado a valores mais altos do que hoje, independentemente de quem vencer”, afirma Sequeira, do BTG.

Moliterno, da Veedha, também diz acreditar que as companhias manterão o fluxo de recompras forte, podendo encerrar os programas já anunciados e iniciar um novo caso as ações se mantenham depreciadas. “As empresas devem manter os programas ativos até mesmo como forma de se proteger de um movimento mais brusco.”

As companhias podem recomprar até 10% do total das ações em circulação, mas nem sempre os programas são tão abrangentes. A empresa não precisa adquirir todo o valor anunciado. Em geral, os comunicados informam a quantidade máxima a ser recomprada. “O volume subiu em 2021 na comparação com 2020 e deve aumentar neste ano”, prevê Sequeira, do BTG, sem detalhar o valor.

Para Enrico Cozzolino, sócio e chefe de análise da Levante Ideias de Investimento, ninguém melhor que a própria empresa para saber se sua ação está barata. “A companhia pode ter muito dinheiro em caixa e em vez de alocar o capital em uma aplicação ruim, de liquidez diária, mas ruim, pode comprar ações pensando no ROE [retorno sobre o patrimônio líquido] mais atrativo”, diz.

Fonte: Valor Econômico, 18/11/2022.
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